quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tem dia que cansa - falta de bom senso - por Lu na China

Tem dia que cansa - falta de bom senso
por  Lu na China
Acho que todo estrangeiro que vive na China é assim: tem dias que a gente está de bom humor e as diferenças culturais (políticas, religiosas, educacionais...) são taxadas de "curiosidades" e vistas com graça e pelo viés antropológico.












Agora... tem dias, como hoje, que a paciência está curta e todas essas infinitas diferenças não têm graça nenhuma e dá vontade de sair dando voadora em todo mundo que é mal educado, grosso ou sincero demais.
Para extravasar meu incômodo e desassossego passei o dia anotando coisas que me irritam (e cansam) aqui na vida da capital chinesa. ------------> Antes que venham que crucificar e tirar satisfação quero deixar claro que todos os casos abaixo são reais, aconteceram comigo e dizem respeito somente a minha experiência.  Pode ser que você tenha morado 10 anos na China e nunca tenha passado por nenhuma dessas situações.  Sorte sua.
O que mais tem me incomodado é a falta de bom senso dos chineses.  Podem chamar de diferença cultural, educacional ou do que quiserem.  Para mim é falta de bom senso mesmo.  É claro que tem muito chinês com bom senso e muito legal por aí. Mas eu estou dando azar de cruzar com umas pessoas, viu...
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Em um fast-food de comida chinesa:
eu: acabei de ver uma foto na frente do restaurante daquela massinha típica chinesa que é frita, comprida, que parece um pão, sabe? Esqueci como chama...
atendente: aquela massa não é de pão.

















eu: é, não é de pão, mas parece. Como é que chama mesmo?
atendente: youtiao
eu: isso! Youtiao! Você tem aqui nesse restaurante, né?
atendente: tem, mas não é massa de pão.
eu: tá, mas é a mesma massinha da foto do lado de fora do restaurante, né?
atendente: é
eu: tá, eu quero uma.
atendente: não tem mais. É só no café da manhã. Já acabou.
Essa conversa levou uns 5-10 minutos. Ela poderia ter tido o bom senso de ter falado isso antes.
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Restaurante completamente vazio. Totalmente. Eu e mais uma pessoa chegamos. Dois clientes. Quatro garçonetes conversando.
eu: oi, garçonete, você pode vir aqui? A gente quer fazer o pedido.
Garçonete anota o pedido. Pega uma lâmpada e vai trocar a que queimou. Cerca de 10 minutos se passam e a mulher não consegue trocar a lâmpada.
eu: você não vai falar o pedido para a cozinha? A gente tá com fome. Você não pode falar o pedido para a cozinha antes e DEPOIS trocar a lâmpada?
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Elevador chega ao térreo. O óbvio? Primeiro, as pessoas de dentro saem e DEPOIS as que querem entram se movem. Mas isso NUNCA acontece. É sempre uma briga: um empurrando o outro para medir quem é mais forte.
O mesmo acontece no metrô, só que o número de pessoas é elevado a 10.
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Já perdi a conta de quantas vezes estava esperando táxi e algum chinês (homem ou mulher) me EMPURROU para passar na frente e pegar o táxi. Sim, empurrou. O táxi estar vindo, eu fazer sinal e um chinês sair correndo para passar na minha frente é normal. Acontece em 95% das vezes. Agora, empurrar... Falta de noção.
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Tô cansando daqui e pensando no meu próximo passo.
Desculpas que eu dou para justificar meu fraco chinês
Os chineses educados dizem:
- Uau!  Como seu chinês é bom. Você mora aqui só há 3 anos e já fala bem assim!  Dá para entender quase tudo que você fala.
Os chineses sinceros dizem:
- Nossa! Você tá aqui há 3 anos e ainda fala mal assim! Como é que pode? Você erra todos os tons, as palavras, mal dá para entender.
Nesses quase 3 anos estudando chinês acumulei uma porção de desculpas para deixar na ponta da língua e falar assim que escuto uma dessas verdades doloridas.
* estudo há cerca de 3 anos, mas como sempre trabalhei, estudar ficou em segundo plano
* como sempre trabalhei, na hora da aula sempre estava mais cansada do que os outros alunos (isso é verdade!)
* os mais novos aprendem muito mais rápido e, como sempre fui uma das mais velhas da turma, demorava mais para entender
* os coreanos e japoneses aprendem muito mais rápido do que os ocidentais e, como sempre fui uma das poucas ocidentais da turma, aprendia mais devagar (isso também é verdade!!!)
* na universidade, sou uma das poucas que não fez curso de chinês na graduação. Impossível eu estar no mesmo nível que eles (verdade também!).
02/03/2011
E, na universidade... (visão ocidental x visão oriental)
Como eu disse no post anterior... estou fazendo mestrado.  E algumas matérias são feitas com outros chineses (ahhh!!!).  É claro que os chineses acham a matéria muito fácil (é na língua deles!) e os (pobres) estrangeiros acham tudo absurdamente difícil.  Eu acho absurdamente difícil, mas estou tentando entender.  O bom disso tudo é poder observar a diferença (ou abismo) cultural entre o ocidente e o oriente.
A professora está lá na frente toda feliz ensinando os usos do chinês.  Como adequar a linguagem para cada situação e fazer com que o interlocutor entenda claramente o que está sendo dito.  A influência da cultura na linguagem, etc. Legal! Já estudei isso em português.  E a professora chinesa dá o exemplo:
"Nossa! Como você está gorda!"
E pede para a aluna CHINESA explicar o que sentiria ao escutar a frase acima.
"Ah, professora, se alguém me dissesse que eu estou gorda eu ficaria feliz porque saberia que a pessoa está dizendo que eu estou saudável, comendo muito bem, que estou investindo na minha saúde.  Se ela dissesse que eu estava magra ficaria triste porque ela poderia dizer que eu pareço doente."
JU-RO.
E, depois, pede para a minha colega OCIDENTAL dizer o seu ponto de vista.
"Se eu alguém dissesse que eu estou gorda eu falaria que a pessoa é muito mal educada. Seria a mesma coisa que dizer que eu estou feia, fora de forma".
Óbvio. Claro.  Simples.
*A autora, Lúcia A., é formada em Letras, especialista em Comunicação e escritora!

Acompanhe blog da autora.
http://lunachina.blog.uol.com.br/

6 comentários:

  1. Você tem um jeito muito informal e gostoso de contar suas histórias. Isso cativa o leitor que prontamente consegue se identificar com a narradora - muito legal!
    No entanto, achei as passagens sobre dificuldade de comunicação aplicáveis a qualquer diferença de culturas. Já o relato do taxi e o do metro tipiciam uma diferença cultural grande com a qual estamos acostumadas.
    Valeu, Lúcia!

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  2. Completamente solidária com a Lu...rs
    A história do elevador é uma das mais perfeitas para ilustrar o 'senso de coletividade' do povo daqui. E como ela disse: tem dias que tudo é divertido, que filosofamos há respeito... mas tem outros......

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  3. Adorei as historias. O negocio e tentar entender o raciocinio deles.

    Maria Heliete Alves Ramos

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  4. Adorei a estoria da Lu. Hoje que é um dia que estou irritada aqui na minha terra, em são Paulo, fiquei super irritada com a china e acabei a estoria da Lu querendo ir embora correndo de lá.

    Muito bom.

    Perla Beatriz da Silveira

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  5. Como eu entendo a Lu.

    A minha solidariedade!!!!!

    Almir Mihessen

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  6. Nas mensagens da rede social, Facebook:

    Ricardo Nespoli (Vitória/Brasil), Bernadette Lyra (São Paulo/Brasil), Helena Ribeiro (Rio de Janeiro/Brasil), Teresa Soares (Holanda), Lidia Silva Santos (Vitória/Brasil), Nair Martins (New York), Márcia Conte Davies (Inglaterra), Arnild Sal (Alemanha), Hermínia Del Caro (Brasília/Brasil), Fernando Monteiro (Belo Horizonte/Brasil), Laerte Damaceno (Vitória/Brasil), Cláudia Hees (Vitória/Brasil), Elder Ferreira (Vitória/Brasil), Camila Dalla Brandão (Vitória/Brasil), Vítor Tancredi (Vitória/Brasil), Nélio Augusto Secchin (Vitória/Brasil).

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