domingo, 12 de junho de 2016

Ah, o amor?



Sobre o Amor parece que tudo já foi dito e redito, falado, escrito, cantado, recitado.No entanto, ainda é um assunto contraditório e inexaurível. Neste blog um tanto lúdico, um tanto ingênuo, nossa única pretensão é a de rever algumas citações de gente famosa- e menos famosa- sobre o tema. Finalizamos com uma explicação- bem colocada e plausível- dos motivos por que acaba o amor. O arremate, ou post- scriptum, é o icônico poema de Luis Vaz de Camões com uma bela tradução inglesa para, quem quiser, se regalar novamente e, é claro, um poema de Pablo Neruda. 

Convidamos todos para entrar na seção de comentários e acrescentar mais pensamentos, poesias e ditos sobre  tema.



Começamos com o (dito) mais incondicional dos amores tal como "dectectou" Agatha Christie:

O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho.

Tete de Femme-Pablo Picasso-1930

Há uma espécie única de amor, com milhares de cópias diferentes.La Rochefoucauld. 

Amor repelido é amor multiplicado. Machado de Assis

Não podendo suportar o amor, a Igreja quis ao menos desinfetá-lo, e então fez o casamento. Charles Baudelaire
Girl Before a Mirror-Pablo Picasso-1932

Se quer ser amado, ame. Sêneca  
  
Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo. Mário Quintana
  
A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande. Roger Bussy-Rabutin
Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo? Fernando Pessoa

Só há um tipo de amor que dura, o não correspondido. Woody Allen 

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.Friedrich Nietzsche 
 

Nu au plateau de sculpteur-Pablo Picasso-1932
Para viver um grande amor, é preciso muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso. Vinicius de Moraes

Era um amor diferente, quase assim feito uma segurança de sabê-lo sempre ali. Caio Fernando Abreu

Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval. Toquinho e Vinícius de Moraes
 
 

O amor é um enorme exagero de diferença que estabelece entre uma pessoa e as restantes. Bernard Shaw

É um amor pobre aquele que se pode medir. Skakespeare 

Em outros tempos houve amores plat˜ônicos, hoje há matrimônios platônicos. Bernard Shaw

Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor.Shakespeare
O amor é um não sei o que, que surge de não sei de onde e acaba não sei como. Madeleine Scudéry

Le Rêve-Pablo Picasso-1932
Nunca tive um primeiro amor. Comecei com o segundo. Turgenev


Pena é não haver um manicômio para corações, que para cabeças há muitos.Florbela Espanca

...o próprio amor, por mais que tente, não consegue preencher completamente a carência constitutiva que é chamado a consertar. Laura Kipnis “Contra o Amor-uma polêmica". 

E finalizamos com:


Por que acaba o amor? 
 

por Vaneska de Moraes

Sempre segui o conselho de Drummond sobre a palavra amor: não facilito, não jogo no espaço, não emprego sem razão, não brinco, não espalho aos quatro ventos. Se melhor discípula fosse, sequer a pronunciaria. 


Fato é que morro de medo de tentar falar de amor. A sensação é de que quaisquer palavras que use o tornarão menor e vulgar. Muito mais por incompetência poética e filosófica, não ouso defini-lo. 

Minha pequena arrogância aqui será indicar mal traçadas hipóteses sobre o porquê de seu fim.

Os adeptos de sua faceta romântica dirão que ele não acaba. Se acaba não era amor. Os mais apegados dirão que ele se transforma. Eu acredito que o amor acaba. Repleto de si ele não se contenta com ser nada além de amor.

O amor acaba porque gasta. Porque usamos sem moderação. Sugamos tudo. Roemos até o caroço. Lambuzamos a cara como se amanhã não houvesse. O pobre do amor fica sequinho e cai do pé. 

O amor acaba soterrado na casa própria. Atropelado pelo carro novo sempre mais novo. Televisões de duas mil polegadas, adegas, móveis planejados, taças de cristal, mil bibelôs, viagens protocolares. 

O amor acaba sufocado pelas coisas.O amor acaba porque um entra quando o outro sai. Um quer quando o outro evita. Um aspira enquanto o outro exala. O amor acaba quando fica sozinho no escuro. O amor acaba no desencontro.O amor acaba nas garrafas de água vazia. No lixo por tirar. Na toalha não pendurada.  Nas roupas jogadas no chão. Nas coisas fora de lugar. 

O amor se acaba na confusão e na bagunça que é sempre do outro.O amor morre de falta. Falta de educação, de compreensão, de paciência, de compaixão, de ternura. O amor morre de falta de cafuné.

O amor acaba sem ser percebido. Na desatenção nossa de cada dia. Na falta de tempo. No deixa pra lá. Nas desnecessidades subentendidas e mal concluídas. O amor acaba no silêncio.O amor acaba porque a gente muda. Porque ficamos de saco cheio. Porque enjoamos. Porque queremos um amor diferente. Um amor novinho em folha, que nos faça lembrar do velho amor quando ardia. 

O amor morre de tédio. Esse amor que tenho medo de vulgarizar acaba por muitos motivos. Paradoxalmente todos eles ordinários.

“...O amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será.”. Carlos não vai se matar por isso. Nem eu.

*Texto publicado originalmente em http://rodadeescrevinhadores.blogspot.nl/ – 23 de maio de 2016 


Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que doi, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?



Love is a fire that burns unseen,
a wound that aches yet isn’t felt,
an always discontent contentment,
a pain that rages without hurting,

a longing for nothing but to long,
a loneliness in the midst of people,
a never feeling pleased when pleased,
a passion that gains when lost in thought.

It’s being enslaved of your own free will;
it’s counting your defeat a victory;
it’s staying loyal to your killer.

But if it’s so self-contradictory,
how can Love, when Love chooses,
bring human hearts into sympathy?

© 1598, Luís Vaz de Camões
 
From: Rimas
Publisher: Almedina, Coímbra, 1994


THE END

*Para ilustrar nosso post sobre o amor, escolhemos algumas obras do pintor espanhol Pablo Picasso, a ópera "Carmen - Habanera com Anna Caterina Antonacci/The Royal Opera" e a música "Escravo da Alegria" de Vinícius de Moraes e Toquinho.

Embora grandes obras de arte possam ser criadas em momentos de depressão e tristeza dos seus criadores, também o amor e a paixão podem inspirar grandes feitos. Pablo Picasso foi um homem de diversos amores e paixões-, conta-se que mudava de companheira tão frequentemente quanto mudava de estilo artístico já que muitas das suas obras são retratos das mulheres e filhos.



















Ah, o amor?



Sobre o Amor parece que tudo já foi dito e redito, falado, escrito, cantado, recitado.No entanto, ainda é um assunto contraditório e inexaurível. Neste blog um tanto lúdico, um tanto ingênuo, nossa única pretensão é a de rever algumas citações de gente famosa- e menos famosa- sobre o tema. Finalizamos com uma explicação- bem colocada e plausível- dos motivos por que acaba o amor. O arremate, ou post- scriptum, é o icônico poema de Luis Vaz de Camões com uma bela tradução inglesa para, quem quiser, se regalar novamente e é claro um poema de Pablo Neruda. 

Convidamos todos para entrar na seção de comentários e acrescentar mais pensamentos, poesias e ditos sobre  tema.



Começamos com o (dito) mais incondicional dos amores tal como "dectectou" Agatha Christie:

O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho.

Tete de Femme-Pablo Picasso-1930

Há uma espécie única de amor, com milhares de cópias diferentes.La Rochefoucauld. 

Amor repelido é amor multiplicado. Machado de Assis

Não podendo suportar o amor, a Igreja quis ao menos desinfetá-lo, e então fez o casamento. Charles Baudelaire
Girl Before a Mirror-Pablo Picasso-1932

Se quer ser amado, ame. Sêneca  
  
Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo. Mário Quintana
  
A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande. Roger Bussy-Rabutin
Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo? Fernando Pessoa

Só há um tipo de amor que dura, o não correspondido. Woody Allen 

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.Friedrich Nietzsche 
 

Nu au plateau de sculpteur-Pablo Picasso-1932
Para viver um grande amor, é preciso muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso. Vinicius de Moraes

Era um amor diferente, quase assim feito uma segurança de sabê-lo sempre ali. Caio Fernando Abreu

Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval. Toquinho e Vinícius de Moraes
 
 

O amor é um enorme exagero de diferença que estabelece entre uma pessoa e as restantes. Bernard Shaw

É um amor pobre aquele que se pode medir. Skakespeare 

Em outros tempos houve amores plat˜ônicos, hoje há matrimônios platônicos. Bernard Shaw

Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor.Shakespeare
O amor é um não sei o que, que surge de não sei de onde e acaba não sei como. Madeleine Scudéry

Le Rêve-Pablo Picasso-1932
Nunca tive um primeiro amor. Comecei com o segundo. Turgenev


Pena é não haver um manicômio para corações, que para cabeças há muitos.Florbela Espanca

...o próprio amor, por mais que tente, não consegue preencher completamente a carência constitutiva que é chamado a consertar. Laura Kipnis “Contra o Amor-uma polêmica". 

E finalizamos com:


Por que acaba o amor? 
 

por Vaneska de Moraes

Sempre segui o conselho de Drummond sobre a palavra amor: não facilito, não jogo no espaço, não emprego sem razão, não brinco, não espalho aos quatro ventos. Se melhor discípula fosse, sequer a pronunciaria. 


Fato é que morro de medo de tentar falar de amor. A sensação é de que quaisquer palavras que use o tornarão menor e vulgar. Muito mais por incompetência poética e filosófica, não ouso defini-lo. 

Minha pequena arrogância aqui será indicar mal traçadas hipóteses sobre o porquê de seu fim.

Os adeptos de sua faceta romântica dirão que ele não acaba. Se acaba não era amor. Os mais apegados dirão que ele se transforma. Eu acredito que o amor acaba. Repleto de si ele não se contenta com ser nada além de amor.

O amor acaba porque gasta. Porque usamos sem moderação. Sugamos tudo. Roemos até o caroço. Lambuzamos a cara como se amanhã não houvesse. O pobre do amor fica sequinho e cai do pé. 

O amor acaba soterrado na casa própria. Atropelado pelo carro novo sempre mais novo. Televisões de duas mil polegadas, adegas, móveis planejados, taças de cristal, mil bibelôs, viagens protocolares. 

O amor acaba sufocado pelas coisas.O amor acaba porque um entra quando o outro sai. Um quer quando o outro evita. Um aspira enquanto o outro exala. O amor acaba quando fica sozinho no escuro. O amor acaba no desencontro.O amor acaba nas garrafas de água vazia. No lixo por tirar. Na toalha não pendurada.  Nas roupas jogadas no chão. Nas coisas fora de lugar. 

O amor se acaba na confusão e na bagunça que é sempre do outro.O amor morre de falta. Falta de educação, de compreensão, de paciência, de compaixão, de ternura. O amor morre de falta de cafuné.

O amor acaba sem ser percebido. Na desatenção nossa de cada dia. Na falta de tempo. No deixa pra lá. Nas desnecessidades subentendidas e mal concluídas. O amor acaba no silêncio.O amor acaba porque a gente muda. Porque ficamos de saco cheio. Porque enjoamos. Porque queremos um amor diferente. Um amor novinho em folha, que nos faça lembrar do velho amor quando ardia. 

O amor morre de tédio. Esse amor que tenho medo de vulgarizar acaba por muitos motivos. Paradoxalmente todos eles ordinários.

“...O amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será.”. Carlos não vai se matar por isso. Nem eu.

*Texto publicado originalmente em http://rodadeescrevinhadores.blogspot.nl/ – 23 de maio de 2016 


Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que doi, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?



Love is a fire that burns unseen,
a wound that aches yet isn’t felt,
an always discontent contentment,
a pain that rages without hurting,

a longing for nothing but to long,
a loneliness in the midst of people,
a never feeling pleased when pleased,
a passion that gains when lost in thought.

It’s being enslaved of your own free will;
it’s counting your defeat a victory;
it’s staying loyal to your killer.

But if it’s so self-contradictory,
how can Love, when Love chooses,
bring human hearts into sympathy?

© 1598, Luís Vaz de Camões
 
From: Rimas
Publisher: Almedina, Coímbra, 1994


THE END

*Para ilustrar nosso post sobre o amor, escolhemos algumas obras do pintor espanhol Pablo Picasso, a ópera "Carmen - Habanera com Anna Caterina Antonacci/The Royal Opera" e a música "Escravo da Alegria" de Vinícius de Moraes e Toquinho.

Embora grandes obras de arte possam ser criadas em momentos de depressão e tristeza dos seus criadores, também o amor e a paixão podem inspirar grandes feitos. Pablo Picasso foi um homem de diversos amores e paixões-, conta-se que mudava de companheira tão frequentemente quanto mudava de estilo artístico já que muitas das suas obras são retratos das mulheres e filhos.



















Ah, o amor?



Sobre o Amor parece que tudo já foi dito e redito, falado, escrito, cantado, recitado.No entanto, ainda é um assunto contraditório e inexaurível. Neste blog um tanto lúdico, um tanto ingênuo, nossa única pretensão é a de rever algumas citações de gente famosa- e menos famosa- sobre o tema. Transcrevemos trechos pouco ortodoxos e irreverentes de duas escritoras americanas e finalizamos com uma explicação- bem colocada e plausível- dos motivos por que acaba o amor. O arremate, ou post- scriptum, é o icônico poema de Luis Vaz de Camões com uma bela tradução inglesa para, quem quiser, se regalar novamente e é claro um poema de Pablo Neruda. 

Convidamos todos para entrar na seção de comentários e acrescentar mais pensamentos, poesias e ditos sobre  tema.



Começamos com o (dito) mais incondicional dos amores tal como "dectectou" Agatha Christie:

O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho.

Tete de Femme-Pablo Picasso-1930

Há uma espécie única de amor, com milhares de cópias diferentes.La Rochefoucauld. 

Amor repelido é amor multiplicado. Machado de Assis

Não podendo suportar o amor, a Igreja quis ao menos desinfetá-lo, e então fez o casamento. Charles Baudelaire
Girl Before a Mirror-Pablo Picasso-1932

Se quer ser amado, ame. Sêneca  
  
Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo. Mário Quintana
  
A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande. Roger Bussy-Rabutin
Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo? Fernando Pessoa

Só há um tipo de amor que dura, o não correspondido. Woody Allen 

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.Friedrich Nietzsche 
 

Nu au plateau de sculpteur-Pablo Picasso-1932
Para viver um grande amor, é preciso muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso. Vinicius de Moraes

Era um amor diferente, quase assim feito uma segurança de sabê-lo sempre ali. Caio Fernando Abreu

Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval. Toquinho e Vinícius de Moraes
 
 

O amor é um enorme exagero de diferença que estabelece entre uma pessoa e as restantes. Bernard Shaw

É um amor pobre aquele que se pode medir. Skakespeare 

Em outros tempos houve amores platónicos, hoje há matrimónios platónicos. Bernard Shaw

Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor.Shakespeare
O amor é um não sei quê, que surge de não sei donde e acaba não sei como. Madeleine Scudéry

Le Rêve-Pablo Picasso-1932
Nunca tive um primeiro amor.Comecei com o segundo. Turgenev

Pena é não haver um manicômio para corações, que para cabeças há muitos.Florbela Espanca

...o próprio amor, por mais que tente, não consegue preencher completamente a carência constitutiva que é chamado a consertar. Laura Kipnis “Contra o Amor-uma polêmica". 

E finalizamos com:


Por que acaba o amor? 
 

por Vaneska de Moraes

Sempre segui o conselho de Drummond sobre a palavra amor: não facilito, não jogo no espaço, não emprego sem razão, não brinco, não espalho aos quatro ventos. Se melhor discípula fosse, sequer a pronunciaria. 


Fato é que morro de medo de tentar falar de amor. A sensação é de que quaisquer palavras que use o tornarão menor e vulgar. Muito mais por incompetência poética e filosófica, não ouso defini-lo. 

Minha pequena arrogância aqui será indicar mal traçadas hipóteses sobre o porquê de seu fim.

Os adeptos de sua faceta romântica dirão que ele não acaba. Se acaba não era amor. Os mais apegados dirão que ele se transforma. Eu acredito que o amor acaba. Repleto de si ele não se contenta com ser nada além de amor.

O amor acaba porque gasta. Porque usamos sem moderação. Sugamos tudo. Roemos até o caroço. Lambuzamos a cara como se amanhã não houvesse. O pobre do amor fica sequinho e cai do pé. 

O amor acaba soterrado na casa própria. Atropelado pelo carro novo sempre mais novo. Televisões de duas mil polegadas, adegas, móveis planejados, taças de cristal, mil bibelôs, viagens protocolares. 

O amor acaba sufocado pelas coisas.O amor acaba porque um entra quando o outro sai. Um quer quando o outro evita. Um aspira enquanto o outro exala. O amor acaba quando fica sozinho no escuro. O amor acaba no desencontro.O amor acaba nas garrafas de água vazia. No lixo por tirar. Na toalha não pendurada.  Nas roupas jogadas no chão. Nas coisas fora de lugar. 

O amor se acaba na confusão e na bagunça que é sempre do outro.O amor morre de falta. Falta de educação, de compreensão, de paciência, de compaixão, de ternura. O amor morre de falta de cafuné.

O amor acaba sem ser percebido. Na desatenção nossa de cada dia. Na falta de tempo. No deixa pra lá. Nas desnecessidades subentendidas e mal concluídas. O amor acaba no silêncio.O amor acaba porque a gente muda. Porque ficamos de saco cheio. Porque enjoamos. Porque queremos um amor diferente. Um amor novinho em folha, que nos faça lembrar do velho amor quando ardia. 

O amor morre de tédio. Esse amor que tenho medo de vulgarizar acaba por muitos motivos. Paradoxalmente todos eles ordinários.

“...O amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será.”. Carlos não vai se matar por isso. Nem eu.

*Texto publicado originalmente em http://rodadeescrevinhadores.blogspot.nl/ – 23 de maio de 2016 


Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que doi, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?



Love is a fire that burns unseen,
a wound that aches yet isn’t felt,
an always discontent contentment,
a pain that rages without hurting,

a longing for nothing but to long,
a loneliness in the midst of people,
a never feeling pleased when pleased,
a passion that gains when lost in thought.

It’s being enslaved of your own free will;
it’s counting your defeat a victory;
it’s staying loyal to your killer.

But if it’s so self-contradictory,
how can Love, when Love chooses,
bring human hearts into sympathy?

© 1598, Luís Vaz de Camões
 
From: Rimas
Publisher: Almedina, Coímbra, 1994


THE END

*Para ilustrar nosso post sobre o amor, escolhemos algumas obras do pintor espanhol Pablo Picasso, a ópera "Carmen - Habanera com Anna Caterina Antonacci/The Royal Opera" e a música "Escravo da Alegria" de Vinícius de Moraes e Toquinho.

Embora grandes obras de arte possam ser criadas em momentos de depressão e tristeza dos seus criadores, também o amor e a paixão podem inspirar grandes feitos. Pablo Picasso foi um homem de diversos amores e paixões-, conta-se que mudava de companheira tão frequentemente quanto mudava de estilo artístico já que muitas das suas obras são retratos das mulheres e filhos.