Acho que estamos prestes a encontrar o nosso cafofo temporário.
Oito minutos de caminhada da estação de metrô mais próxima = perfeitamente aceitável. Tamanho das acomodações = nem tanto. Se juntássemos os quatro quartos que a tal casinha se gaba de ter, todos eles caberiam dentro de apenas dois dos quartos da nossa casa atual e ainda sobraria um bom espaço. Minha geladeira, por exemplo, não cabe na cozinha. E se eu engordar dez quilos é bastante provável que eu também não caiba. Entretanto, é isso ou amargar mais alguns meses de house hunting. Aparentemente existem casas interessantes, mas elas costumam ficar longe da estação, não ter garagem ou ser alugadas em menos de 24 horas.
A casa não tem nem mesmo o charme vitoriano das tradicionais residências urbanas londrinas. É apenas um quadrado de tijolinhos vermelhos. Foi construída nos anos 80 e fica num cul-de-sac, cercada por casas mais ou menos iguais arquitetonicamente. Os poucos móveis que já se encontram dentro dela ficarão lá. O imóvel estava alugado antes para uma família com crianças, e cada quarto tem uma cama. Invariavelmente encardida. Preciso me livrar delas (todas velhas, sujas e nojentas), do sofá (velho, sujo, nojento e desconfortável) e talvez da mesa e aparador cafonas que entulham parte da sala. ONDE pôr todas essas coisas não faço idéia, mas prefiro pagar para guardá-las em algum galpão do que ser obrigada a encostar em qualquer um daqueles colchões fedidos.
Tem um jardim (ok, tem grama) de tamanho respeitável nos fundos, apesar de a cerca necessitar reparos - não queremos raposas lanchando minha gata e nem a gata tonta fugindo direto para baixo dos pneus de um carro em movimento. A garagem é dupla e caberá algumas caixas e entulhos no fundo (quem sabe algumas camas desmontadas... dedos cruzados!). Os quartos “double” (para casal, como eles classificam aqui) são pequenos, porém bem claros. Num deles há uma suíte (não gosto de banheiro no quarto, mas enfim) e no outro há armários embutidos. Os quartos “single” (de solteiro) são mínimos. Ainda assim estamos cerca de 90% certos de que a casa ficará conosco (a menos que o landlord decida tirar da agência por algum motivo bizarro). No momento estão pintando paredes, trocando pisos e consertando um vazamento, mas em uma ou duas semanas poderemos assinar o contrato.
Não estou saltitando de alegria porque, bem, eu esperava um lugar mais charmosinho para começar a nossa aventura do outro lado da poça. Mas a necessidade de ter uma garagem + lugar para estacionar outro carro acabou reduzindo muito a escolha; Londres não é conhecida por suas garagens espaçosas. Aliás, Londres não é conhecida por espaço, simples assim. Um dos muitos motivos que faz seus habitantes sonharem em deixar a cidade para trás e buscar uma vida no campo é a possibilidade de conquistar simplicidades necessárias como privacidade, silêncio, limpeza, segurança, qualidade de vida e alguns metros quadrados a mais onde poder vivê-la. E são exatamente essas coisas que eu estou deixando para trás, sem conseguir(ainda) me sentir muito estúpida.
Enfim, é uma casa. Não muito engraçada, mas com teto e paredes. Perto do metrô, numa área relativamente tranquila, com espaço externo para a minha felina. Cinemas, Tesco e uma Ikea não muito distante. Acesso fácil para o aeroporto. E acima de tudo, eu vou estar onde preciso estar. Para poder então começar a dar uma segunda e última chance a essa relação meio estranha entre o meu coração e este país.
*Fotos Margô Dalla
*Texto escrito por Lolla/Inglaterra
Visite site: http://www.hellololla.com
*Texto escrito por Lolla/Inglaterra
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