terça-feira, 7 de junho de 2011

O chá das lembranças!

Sérgio Godoy
Sergio Godoy
Muitas vezes discutimos a vida e consequentemente todas as suas glórias. Raramente mencionamos a morte: "A vida está para ser vivida!" Mas todos nós somos conscientes do término de nossa existência. Somos livres para crer ou não em uma continuidade do espírito, na imensidão do universo. Somos livres para agir de acordo com nossos padrões sociais e religiosos. Aprendemos que viver no presente, corrigindo nossas falhas, é o caminho para um futuro melhor

Obviamente não razão para pensarmos no término da vida, mas para viermos intensamente, fazendo planos e direcionando nossas conquistas.

A morte é repleta de misticismo porque sabemos tão pouco a seu respeito. Mas como disse Mário Quintana: "Morrer, que me importa? O diabo é deixar de viver. A vida é tão boa! Não quero ir embora..."

Na semana passada eu pedalava por uma reserva pequena reserva natural, próxima a Amsterdã, quando descobri um bonito cemitério rodeado de árvores frondosas. Era um cemitério católico e o que me chamou a atenção foram os nomes inscritos nas lápides, em sua maioria estrangeiros. Deparei-me com o túmulo de um brasileiro, onde li seu nome, data e local de nascimento. "Com eterna saudades de sua mãe e irmãos." Senti-me bastante sensibilizado por essa imediata relação com um compatriota que provavelmente vivera aqui. Caminhei por outras alamedas até chegar ao portão principal e ir-me embora em busca da cidade, onde o movimento das pessoas nas ruas faria com que eu me esquecesse dessa estranha sensação.

na Holanda quatro cemitérios onde bonitas casas de chá foram projetadas com janelas largas, cadeiras confortáveis e belos jardins. A idéia surgiu depois d euma longa pesquisa onde se constatou que muitos visitantes tinha como opção, depois de longas e tristes horas, somente água da torneira para beber. Na Europa existe o famoso "Turismo no cemitério" (em holandês: Begraafplaatstoerism) - as visitas aos túmulos de personalidades famosas. Isso é um tributo à história, a épocas passadas, no local onde grandes nomes "dormem" ao lado de desconhecidos. Em Paris visitei o "Cimetière du Pére Lachaise" e obviamente as tumbas de Oscar Wilde, Sarah Bernhardt, Honoré de Balzac, Marcel Proust, Colette e Edith Piaf. Tive o prazer de olhar para os blocos de pedra e doar um sorriso de agradecimento àqueles cuja arte é um legado às eternas gerações. Não! Alí, não pude tomar chá ou comer uma torta de maçã.

Sérgio Godoy é paulistano, graduado em Artes Visuais: Central Saint Martins School of Art, em Londres. Participou de várias antologias literárias no Brasil e alguns de seus poemas foram publicados em Poetry Review UK.

*Este texto foi publicado originalmente no site Brasileiros na Holanda.
*Foto arquivo do escritor.

6 comentários:

  1. Que lindo! Nós bem sabemos que, em se tratando de chá no cemitério, a Holanda é imbatível! :-)

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  2. Oi Júlia,
    O Sergio escreve tao bem. Legal que voces publiquem estes
    valores no blog.
    Clívia Caracciolo (através de email).

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  3. Legal, Ju. Tenho encaminhado o link para alguns amigos, principalmente aos
    que moram no exterior.
    bjs
    Milena
    (Através de email)

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  4. Hi Julia,

    Ik begrijp veel van de tekst en vond het mooi, maar de koptekst kom ik niet
    uit: Quem vai ao vento...
    ...perde o assento, quem vai ao mar, perde o lugar, ou quem vai, vai; quem
    fica, fica! Ou quem vem de longe, vende como quer.
    Wil je het voor me vertalen?

    X,
    Babette
    (Através de email)

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  5. Muito interessante e muito curiosa a sua crónica! E é mesmo assim. Às vezes penso que os holandeses, tão ciosos de seu conforto e sobretudo de "gezelligheid" à sua volta, optam por não se descompor, não se desarmar, até mesmo perante a morte!
    Em tempos que já lá vão, via-se nos pontos de ônibus o seguinte slogan: "Is er koffie na de dood?" tradução "Há café após a morte?" É. Confesso que me custou um pouco a engolir...

    Mila V. Paletti

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  6. Oi Julia,
    Tudo bom? Seu blog fica mais legal cada tempo! Muito obrigado por enviar-me.
    Harold Marquenie
    (via email)

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