terça-feira, 21 de junho de 2011

Imigração holandesa - Os pioneiros


Durante 5 semanas consecutivas, vamos publicar na íntegra, artigos sobre a Imigração holandesa no Brasil, em especial, Carambeí - estado do Paraná, escritos pela jornalista Mariângela Guimarães que viajou para o Brasil especialmente para cobrir o início dos festejos dos 100 anos dos holandeses no Brasil. Estes artigos foram publicados originalmente na Radio Netherlands Worldwide em 25/04/2011 (http://www.rnw.nl).

Os pioneiros
Por Mariângela Guimarães


O que leva alguém a querer atravessar um oceano, abandonar seu país, deixando amigos e parentes para trás, para tentar recomeçar num novo lugar? O sonho de uma vida melhor tem um alto preço. E se emigrar não é uma opção fácil nos dias de hoje, imagine 100 anos. Naquela época, emigrar era partir para o desconhecido, uma aventura repleta de percalços que ninguém poderia prever.
Foi assim com os primeiros holandeses que chegaram a Carambeí, na região dos Campos Gerais do Paraná. A mais antiga das seis colônias holandesas que conseguiram se manter com sucesso no Brasil, Carambeí comemora este ano 100 anos de imigração holandesa, e o país comemora junto ao declarar 2011 o Ano da Holanda no Brasil.
Localização dos holandeses no Espírito Santo


Os primeiros a chegar
A ligação da Holanda com o Brasil vem de longa data. No século 17, boa parte do Nordeste brasileiro esteve sob domínio holandês, de 1630 a 1654. Mas a imigração holandesa, propriamente dita, teria início bem mais tarde, em meados do século 19. Os primeiros grupos de holandeses chegariam a partir de 1858 ao Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estabelecendo-se, em geral, em colônias com outros imigrantes europeus


Parque Histórico

Entre 1908 e 1909, várias famílias foram atraídas para a colônia Gonçalves Júnior, próxima à cidade de Irati, no Paraná. Entre elas estavam as famílias dos irmãos Jan e Leendert Verschoor. Embora não fossem agricultores, deixavam a Holanda por uma oferta de terras férteis e baratas numa região de clima ameno, onde poderiam plantar e colher. Mas a realidade que encontraram foi bastante diferente. Chegaram a uma área de mata fechada, que teria que primeiro ser desmatada para que pudessem cultivar a terra.

Doenças tropicais assolavam a região e provocaram muitas mortes, principalmente de mulheres e crianças. Tantas que a colônia Gonçalves Júnior ficou conhecida como o ‘Cemitério de Mulheres’. Jan Verschoor perdeu sua esposa, um filho e uma filha, como conta seu neto, Dick Carlos de Geus:“Foi feita uma divulgação muito grande na época na Holanda de que existia um paraíso no Paraná, numa localidade chamada Irati, e que as pessoas ganhariam um bom terreno, com todas as condições de começarem com a pecuária de leite e com a agricultura. que quando aqui chegaram a realidade era diferente. Eles foram colocados no meio da mata, tiveram que abrir as florestas e, nos primeiros dois anos, o pouco que eles plantaram, perderam, porque vieram pragas de ratos, de gafanhotos. Eles fracassaram, não por culpa deles, mas pelas condições. E principalmente por muitas doenças. Muitas e muitas pessoas faleceram, inclusive a minha avó materna, com dois filhos. Malária, tifo, foram muitas doenças... Minha avó eu sei que ficou doente num dia e três dias depois faleceu.

Persistência
Apesar das agruras e das perdas de entes queridos, uma possibilidade de trabalho oferecida pela Brazil Railway Company, que construía a estrada de ferro entre Curitiba e São Paulo, fez com que as duas famílias Verschoor, acompanhadas por mais uma família da colônia Gonçalves Júnior, a família de Jan Vriesman, resolvessem recomeçar em Carambeí, para onde se mudaram em 1911.
Animado com as novas perspectivas a Brazil Railway Company oferecia terras e algumas vacas leiteiras para que os colonos produzissem alimentos para os funcionários da estrada de ferro –, Jan Verschoor voltou à Holanda para buscar uma nova esposa. Acabou retornando ao Brasil ainda solteiro, mas trazendo junto sua irmã e as filhas, e mais as famílias de Jacob Voorsluijs e dos irmãos Leendert e Arie de Geus.
Vocação cooperativista
Em 1913, a colônia de Carambeí contava com 12 famílias holandesas, e em 1914 eram mais de 50. Com uma média de 10 a 15 filhos por família, não demorou muito para que crescesse e prosperasse, e em 1916 existiam quatro pequenas fábricas de queijos e laticínios. Em 1925 foi criada a primeira cooperativa de produção do país, a Sociedade Cooperativa Hollandeza de Lacticínios mais tarde Cooperativa Batavo, marca hoje famosa em todo o Brasil.
A união do grupo de imigrantes em torno de suas tradições e pilares culturais religião, educação e cooperativismo fizeram da colônia Carambeí uma história de sucesso.
A imigração holandesa se consolidaria ainda mais após a Segunda Guerra Mundial, com a criação de novas colônias em São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná: Holambra (SP, 1948), Não Me Toque (RS, 1950), Castrolanda (PR, 1951), Arapoti (PR, 1960) e Holambra II (SP, 1960). Junto com Carambeí, elas formam os seis principais enclaves holandeses no Brasil e até hoje continuam atraindo novos imigrantes.
Embora muito menor do que a imigração vinda de países como Itália ou Japão, o carambiense Dick de Geus não esconde o grande orgulho em falar do legado da imigração holandesa.
“Nós representamos talvez 1% da imigração japonesa. Mas a gente sempre diz que embora sejamos poucos imigrantes e descendentes, a gente conseguiu deixar boas marcas aqui, principalmente no setor de cooperativismo, porque aqui foi criada a primeira cooperativa de produção do Brasil; na pecuária do leite, onde nós somos exemplo para todo o país; e na agricultura sustentável, pelo plantio direto. Embora sejamos poucos em número, fomos bastante participantes no desenvolvimento do Paraná e do Brasil como um todo.
*As ilustrações foram retiradas do livro "Os Capixabas Holandeses" - Uma história holandesa no Brasil, escrito por Ton Roos e Margje Eshuis.,

terça-feira, 7 de junho de 2011

O chá das lembranças!

Sérgio Godoy
Sergio Godoy
Muitas vezes discutimos a vida e consequentemente todas as suas glórias. Raramente mencionamos a morte: "A vida está para ser vivida!" Mas todos nós somos conscientes do término de nossa existência. Somos livres para crer ou não em uma continuidade do espírito, na imensidão do universo. Somos livres para agir de acordo com nossos padrões sociais e religiosos. Aprendemos que viver no presente, corrigindo nossas falhas, é o caminho para um futuro melhor

Obviamente não razão para pensarmos no término da vida, mas para viermos intensamente, fazendo planos e direcionando nossas conquistas.

A morte é repleta de misticismo porque sabemos tão pouco a seu respeito. Mas como disse Mário Quintana: "Morrer, que me importa? O diabo é deixar de viver. A vida é tão boa! Não quero ir embora..."

Na semana passada eu pedalava por uma reserva pequena reserva natural, próxima a Amsterdã, quando descobri um bonito cemitério rodeado de árvores frondosas. Era um cemitério católico e o que me chamou a atenção foram os nomes inscritos nas lápides, em sua maioria estrangeiros. Deparei-me com o túmulo de um brasileiro, onde li seu nome, data e local de nascimento. "Com eterna saudades de sua mãe e irmãos." Senti-me bastante sensibilizado por essa imediata relação com um compatriota que provavelmente vivera aqui. Caminhei por outras alamedas até chegar ao portão principal e ir-me embora em busca da cidade, onde o movimento das pessoas nas ruas faria com que eu me esquecesse dessa estranha sensação.

na Holanda quatro cemitérios onde bonitas casas de chá foram projetadas com janelas largas, cadeiras confortáveis e belos jardins. A idéia surgiu depois d euma longa pesquisa onde se constatou que muitos visitantes tinha como opção, depois de longas e tristes horas, somente água da torneira para beber. Na Europa existe o famoso "Turismo no cemitério" (em holandês: Begraafplaatstoerism) - as visitas aos túmulos de personalidades famosas. Isso é um tributo à história, a épocas passadas, no local onde grandes nomes "dormem" ao lado de desconhecidos. Em Paris visitei o "Cimetière du Pére Lachaise" e obviamente as tumbas de Oscar Wilde, Sarah Bernhardt, Honoré de Balzac, Marcel Proust, Colette e Edith Piaf. Tive o prazer de olhar para os blocos de pedra e doar um sorriso de agradecimento àqueles cuja arte é um legado às eternas gerações. Não! Alí, não pude tomar chá ou comer uma torta de maçã.

Sérgio Godoy é paulistano, graduado em Artes Visuais: Central Saint Martins School of Art, em Londres. Participou de várias antologias literárias no Brasil e alguns de seus poemas foram publicados em Poetry Review UK.

*Este texto foi publicado originalmente no site Brasileiros na Holanda.
*Foto arquivo do escritor.