segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O seu coração pode ter várias cores e bandeiras!


Ai de saudade que dá....

O que será que acontece quando você nasce em um lugar, passa vinte e nove anos da sua vida e depois vai viver em outro, com  tudo, absolutamente tudo, diferente?

Bem, vou dividir com vocês minha experiência pessoal sobre o assunto.
Morei na Holanda  durante dez anos, casei, descasei, fui mãe, aprendi holandês, francês e a andar de bicicleta.
Sim, quando cheguei à Holanda não sabia andar de bicicleta. Fiz o curso para aprender a andar e lá recebemos também orientações sobre o tráfego. Ou seja, fui morar em um país que é conhecido por ser um dos países oficiais da bicicleta, sem saber andar... Era pra desistir não é mesmo?
Poderia listar um milhão de aspectos da vida na Holanda que não curtia e muitas vezes, ainda me escuto reclamando sobre isso quando eu ainda estava morando lá. Cito três:
-O idioma, que soava como um filme  alemão em preto e branco, sem legendas;
-O clima, ah meu Deus do céu, minha mãe não acreditava quando eu dizia que estava chovendo há uma semana sem parar e
-Os alimentos, que tem um sabor diferente, claro, não tem sol o ano inteiro.
Mas então o porquê da saudade? Como eu posso ter voltado a viver no país que nasci e me sentir completamente um peixe fora da água?
Faz quase um ano que eu e meu filho voltamos a morar no Brasil e todo este tempo estas reflexões ocupam a minha mente.
Sei que é parte da natureza humana a insatisfação, estamos sempre procurando mais... a grama do vizinho é sempre mais verde!
Na verdade,  eu me considero uma pessoa que teve o privilégio de vivenciar duas culturas opostas, não há céu aqui na terra.
Minha saudade da Holanda, vem exatamente do que muitos não sentem quando estão lá. Liberdade!  
Sim, pasmem, critiquem, não me importo! A Holanda, mesmo com todos os códigos e a dureza das palavras de algumas pessoas, é um país onde tive uma liberdade que nunca senti no Brasil.
Pobres, milionários, gente de classe média, todos podem andar com a sua bike e fazer compras tanto na rua mais chique de Amsterdã, quanto no mercado das pulgas local.
A maioria respeita os sinais de trânsito, os pedestres tem prioridades e nos ônibus, bondes (trams), nos trens, as crianças são respeitadas.

Se alguém não gosta de você, deixa isso bem claro na sua cara, sem rodeios ou falsidade. Vamos anotar quando vamos nos ver? Sim, qual o problema de se usar uma agenda?
Todos os mitos que se formam sobre as culturas, caíram por terra quando entendi  como a coisa funciona; mas para isso, precisei passar pelos processos de tomar distância e olhar para a vida que eu tinha na Holanda com uma perspectiva diferente.
Eu precisava sentir o vento soprando em outra direção para poder valorizar a simplicidade da vida que construí na Holanda; hoje sei que isso me completa e me faz ser quem eu sou.
Adotei sim, a Holanda como o país que me acolheu como imigrante. Isto não é fácil, nem para os principiantes, nem para os preguiçosos. É minha segunda pátria e neste momento da minha vida, o lugar que escolho para viver. Sim, eu e meu filho vamos voltar a morar na Holanda.

Me dou conta de que nossa  vinda para o Brasil foi um ato de brasilidade também, já que  meu filho tem o DNA Brasileiro. Ele é um privilegiado, pois aos oito anos de idade já fala três idiomas fluentemente.
Ele está assimilando a cultura brasileira e tudo o que o Brasil tem de bom e ruim para oferecer, entendendo as diferenças. Tenho a certeza, que ele não será mais um brasileiro que possui o passaporte, sem nunca ter vivido no Brasil ou, como às vezes acontece, sem falar português. E  ele não será um holandês, deslumbrado e entorpecido pelo Carnaval.

Finalizando, o que acredito ser o mais importante para aqueles que escolhem ter duas pátrias e sempre se confrontam com o dilema de onde viver é: não julgue, mas aprenda!

E como diz Caetano Veloso, [cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é]; portanto sabe o que é melhor para você. 

O seu coração pode ter várias cores e bandeiras.

Rosemeire Lourdes Pinto
São Paulo, 29 de julho de 2011


Fotos Margô Dalla e internet


3 comentários:

  1. Via email:

    "É sempre uma situação bizarra, os sentimentos se sobrepõem e as contradições pipocam a todo instante.
    *Milena Moretta


    *Milena é italiana e mora no Brasil.

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  2. Via email

    Adorei a publicação de meu texto!

    Até chorei de emoção com as fotos e o vídeo do mestre Caetano.....

    Muito obrigada mesmo!!!!!!!!!!!!!!

    Beijo,

    Rosemeire

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  3. oi julia e neyde, adorei. por causa da saudade resolvi pintar, transforma-la em cores e formas tem sido pra mim nos ultimos anos, a aventura favorita. cada um sente a saudade de um jeito particular e a minha se transforma em cores, movimentos e formas especialemte quando aperta de verdade. biju. julia B

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